San Andres: Expectativa x Realidade.

No terceiro stop da viagem pela Colômbia (já passamos por Bogotá e Cartagena) chegamos finalmente à ilha de San Andres, o destino mais aguardado da trip.

Expectativa
Eu nunca tinha ouvido falar de San Andres. Quando comecei a comentar com amigos que estava pensando em ir, TODO MUNDO conhecia alguém que já tinha ido, inclusive alguns amigos já tinham também estado lá, me senti até meio out de não conhecer ainda. E as opiniões eram praticamente unânimes: “lindo”, “espetacular” “absurdo” “que água é aquela” “coisa de louco” “você vai amar” etc. Relaxei e não fiz uma pesquisa a fundo sobre o local, apenas vi algumas fotos no instagram, pela hashtag #sanandres, #sanandrescaribe, etc. Reservei um hotel no centro, pra ficar perto das praias e facilitar meu deslocamento, e partimos em busca daqueles adjetivos maravilhosos.

Esse é o cenário de Johnny Cay, procurando muito, um lugar vazio na ilha. 

Realidade
Não dá pra se queixar da natureza local. O mar é realmente incrível, conhecido como “mar de los siete colores”, pela troca de tons de azul e verde do mar. INCRÍVEL. Nunca vi nada igual, tons azul turquesa absurdos e tal. Agora, adianta ter um lugar destes ABARROTADO de turistas? Sem controle de entrada? Onde os hotéis , restaurantes e serviços ainda estão aprendendo a receber um turista e tratá-lo bem?

A verdade é que nunca passei tanto perrengue em uma viagem turística, e muito cara! Não estou falando de ir para uma tribo africana e comer fígado de leão, pois este é o costume local; estou falando de: hotéis sujos, serviços inoperantes (ar condicionado, internet, etc) restaurantes caros com comida mediana e serviço ridículo (é muito pedir um saleiro na mesa? um azeite? um guardanapo? É justo receber uma coca-cola quente e sem gelo, e não ter gelo no restaurante?) e passeios que simplesmente não valeram a pena, pela quantidade de gente que eles autorizam nas ilhas próximas. De que adianta ir num passeio de barco para uma ilhota paradisíaca (vou repetir, paradisíaca, coisa de filme) com mais 2.000 pessoas na mesma ilha, caixa de som para todos os lados, gente bêbada, comida de bandejão, etc? De que adianta o guia falar “agora vamos ver as arraias que vivem por aqui” e de repente, ele salta do barco e pega, com as mãos, uma arraia no fundo do mar, para mostrar aos turistas?? Quem pode achar isso saudável para estes animais?

Cenas grotescas de um turismo absolutamente predatório e desorganizado, onde cada um quer ganhar o seu, rápido, e que se dane. E o tal “Cayo Acuario” que tem esse nome pois teoricamente veríamos centenas de peixes, de tão cristalina que é a água (e é mesmo!) ? O que você vê mesmo são centenas de pernas embaixo d’água, ao seu redor, por todos os lados. É como uma piscina pública gigante, lotada de gente. Foi preciso me afastar bem das pessoas, bastante, para conseguir (boas) fotos.

Já o “Johnny Cay” , uma das mais lindas ilhas que eu já conheci, além de lotada de gente, não tem porto para desembarcar os passageiros! O piloto do barco avisa minutos antes “por favor, vamos desembarcar sem confusão e pânico” e acelera tudo, jogando o barco na areia, onde estão os banhistas. O barco, obviamente, não consegue uma estabilidade por estar ali preso na areia e na arrebentação, tomando ondas por todos os lados, e nesse momento eles começam a incitar as pessoas a pularem na areia/água imediatamente, pois “aqui es muy peligroso”. Não acredita? Assista o video acima!

Qualquer refeição para 2 pessoas nos restaurantes da ilha custavam, no mínimo, COP$ 120.000 (uns R$140,00, na cotação de set/19). Isso sem bebida alcóolica. Esta mesma refeição, em um outro nível de qualidade (não dá nem pra comparar) em Bogotá, sairia por uns COP$ 80.000 (R$94, cotação set/19). Tudo bem, é uma ilha, os insumos são mais caros.. mas.. peixe caro? Numa ilha? E peixe ruim, sem tempero, sem nada? Wait a minute.

Para quem não conhece San Andres, pode estar lendo isso e pensando “que cara chato, foi pra ilha no caribe e está reclamando a toa”. Veja bem, estamos falando de uma ilha com quase 80.ooo habitantes, e que recebe um milhão de visitantes/ano! São 12 turistas para cada habitante! No Rio de Janeiro (cidade) apenas como comparativo, esta taxa anual é de 1,01 turistas por habitante, se você quiser considerar que TODOS os turistas que vem ao Brasil passam pelo Rio em algum momento da viagem.

O centro da cidade, que poderia ser bem interessante, é um amontoado de lojas de eletrônicos e roupas de marca, visto que a ilha é isenta de imposto. Para trocar dólares por Pesos Colombianos, a ilha conta com 1 (uma!!!) mísera casa de câmbio da Western Union, no centro, que abre as 8 e fecha as 5. Ah, no aeroporto também tem, é verdade, mas só quando o funcionário está por lá.

Fotografias podem ser bem mentirosas, afinal, o fotógrafo faz o recorte como ele quiser. Aqui, apontei a câmera para um lado, .. e depois para o outro. 

Em Cayo Acuario você vai ver muitos peixes, como um verdadeiro aquáro… Benvindo à Cayo Acuario. Apenas uns 1.000 turistas te esperando pela frente.

Vamos ver as MantaRays, eles disseram.. não imaginava que o guia iria entrar na água e retirar a arraia de seu habitat natural para mostrá-la aos turistas no barco, uma cena absurda e irresponsável, mas que acontece todos os dias em San Andres.

A verdade
Na minha opinião – e agora posso dar, pois eu estive lá – é que as pessoas em geral se frustram com essa experiência, mas San Andres é tão caro e tão longe de tudo (são quase 2h de vôo de Bogotá, que já é longe!) que rola uma vergonha de falar “fui e foi uma merda” e acabam dizendo que na verdade é lindo, demais, é só você acordar cedo e ir nos lugares que não encontra ninguém… não é bem assim.

Também é verdade que, se você optar por um resort fora do centro, e se isolar nele , como o Decameron na praia de Cocoplum, vai ver pouco dessa muvuca. Quando alugamos o carrinho – se chama mule, é tipo um carrinho de golf bombado, não passa de 20km/h, e geralmente beem ferrado, e ainda custou COP$140.000 (escandalosos R$160) por 6h de aluguel – conhecemos a parte leste e sul da ilha e vimos que por ali o clima era mais agradável, menos turistas, etc. Mas ali você fica literalmente isolado, dependendo de toda a estrutura do seu hotel.

Mas..
Como nem tudo está perdido, nestes dias que passamos em San Andres consegui fazer algumas boas fotos com esse clima de Caribe, água cristalina, coqueiros, etc. Confira no video o equipamento que eu usei, incluindo a caixa estanque da Aquatech, que usei pela primeira vez e consegui fazer algumas fotos no mínimo interessantes.

SOBRE O AUTOR

Marcello Cavalcanti

Fotógrafo outdoor com 20 anos de experiência. Youtuber com o canal Por Trás da Foto, professor de fotografia presencial e online, idealizador dos Cursos Online Fotografia de Paisagem., Filter Masters by K&F Concept, A Caixa Preta do Fineart, e vencedor de prêmios relevantes no cenário da fotografia de paisagem e natureza. Cadastre-se na minha newsletter para ficar sabendo dos novos lançamentos, promoções e dicas de fotografia!