Toda vez que eu viajo para um lugar assim, fico realmente muito ansioso.

Preciso aprender a controlar isso. Coloco em cima de mim uma pressão gigantesca para trazer boas fotos, extrair o melhor daquele lugar, buscar o que não foi feito, etc. Isso é bom pois deixa o meu nível fotográfico sempre alto, mas ao mesmo tempo muitas vezes atrapalha um pouco a criatividade mais solta, mais casual, o olhar mais ingênuo. São tantas fotos “agendadas” para fazer que, se o tempo não colabora, ou ocorre algum imprevisto, eu me sinto um pouco travado. E isto tem acontecido nesta viagem até agora.

Não estou na época perfeita para fotografar El Chaltén, é verdade. Estou aqui pois decidi aumentar em 1 semana uma viagem elaborada pela agência de expedições fotográficas OneLapse que me levará com um grupo de fotógrafos por uma semana em incursão por dentro do Parque Nacional Torres Del Paine, na fronteira do Chile com  Argentina, para fotografar os pumas. Para ver os animais, essa é a época ideal, sem turistas, mais frio, mais vazio. Com esta viagem agendada, aumentei em 7 dias o tour e vim antes, sozinho para El Chaltén, conhecer as trilhas e paisagens exuberantes. Estou totalmente à mercê do tempo aqui. Um dia chove, depois abre o tempo, depois fecha, depois abre de novo. Fica impossível fazer as fotos planejadas. As trilhas são longas, mínimo de 2h de caminhada para chegar a algum lugar com um visual épico, e pode estar.. fechado, sem visibilidade,  com uma espessa neblina, ou mesmo nevando.

Neste 4º dia em El Chaltén, amanheceu novamente nublado e bem frio, e com a principal estrela do local, o pico Fitz Roy e seus irmãos ao redor, todos encobertos. Fiquei um tempo meio desanimado no quarto da pensão, mas decidi sair. Tomei café da manhã com os insumos que comprei no mercado ontem,   (pão, queijo, salame) peguei o carro e fui em direção ao Lago Del Desierto, um lago afastado 40km daqui, por uma estrada de terra e pedra. No começo estava tudo ok, parei até no caminho para fazer algumas fotos, gravei para o canal, mas a estrada foi ficando cada vez mais pedregosa, as pedras voando e batendo na lataria do pobre Onix 1.0, e foi me dando aquele medo de furar o pneu, ali sozinho, poderia furar até 2. PAssou um cara em uma pick up por mim, parou e falou “amigo, haz la vuelta pues aqui tu coche no avanza más!” Era a senha para dar meia volta e tristemente voltar para El Chaltén.

De volta à cidade, não podia desanimar. O tempo continuava aquela coisa cinza, luz flat, sem graça. Vamos de trilha, esquentar um pouco o corpo, pensei. Resolvi subir o Mirador de Los Condores, a trilha mais fácil daqui, com 40min (fiz em 25 na verdade) de subida leve, se tem uma vista panorâmica da cidade de El Chaltén e – se estivesse aberto – do Monte Fitz Roy. Foi muito triste estar ali e não ver a montanha, só a cidade, que de cima não tem nada demais, é um vilarejo. Mas ok, vamos manter o espírito em alta! Fiz algumas fotos, videos pro canal , e , na descida, ainda meio sem rumo do que fazer agora, vi a placa indicando uma vertente desta trilha para o outro lado, chamado de Mirador de las Águilas. “Não tenho nada pra fazer mesmo, vou lá”. Esta trilha é mais longa, cerca de 30min andando, mas totalmente plana e lindos visuais, tudo nevado, as árvores secando, etc. No final, você chega do outro lado da montanha e vislumbra o lago Viedma, o deserto, montanhas ao fundo.. ali tomei ciência da complicação que é a previsão do tempo na Patagônia. Eu estava cercado de neve; a minha frente, um enorme deserto seco; mais ao fundo, via-se claramente uma forte chuva caindo sobre o lago; e ao fundo, céu azul. Tudo isso ao mesmo tempo diante dos meus olhos. Assim não há planejamento que aguente! Mais algumas fotos, videos, e tomei o caminho de volta, uma linda caminhada. Já eram por volta das 17h, e eu estava com fome, não tinha nem almoçado.

Ao iniciar a descida da trilha, tive uma grande surpresa! A montanha do Fitz Roy, que se escondeu o dia todo, começava a mostrar o pico! Bem devagar, e em poucos minutos, já estava quase toda exposta! Mas essa história de como acabou o dia eu vou deixar para o próximo post- e para o próximo video!

Dicas, custos e etc

Almoço
(Hamburger e cerveja) AR$ 350

SOBRE O AUTOR

Marcello Cavalcanti

Fotógrafo outdoor com 20 anos de experiência. Youtuber com o canal Por Trás da Foto, professor de fotografia presencial e online, idealizador dos Cursos Online Fotografia de Paisagem., Filter Masters by K&F Concept, A Caixa Preta do Fineart, e vencedor de prêmios relevantes no cenário da fotografia de paisagem e natureza. Cadastre-se na minha newsletter para ficar sabendo dos novos lançamentos, promoções e dicas de fotografia!