Que a Canon balançou o mercado mirrorless todo mundo já sabe.
Depois de anos de inércia sem apresentar suas armas, deixando o caminho aberto para Sony, Nikon e Fuji dominarem o mundo das mirrorless, a Canon começou a soltar as suas câmeras sem espelho em 2020 (depois dos lançamentos frustrados da R e RP, em 2018/19) e menos de 4 anos depois, já é a marca de mirrorless mais vendida nos EUA, caminhando para uma liderança global em breve.
O problema é saber qual câmera comprar.
Essa chuva de lançamentos acaba criando um problema para o consumidor que não acompanha com uma lupa as movimentações do mercado. Qual câmera comprar? Parecem todas muito parecidas.. são tantas siglas, e detalhes, e os preços também são tão aproximados.. qual é a câmera ideal para mim? e para você?
CALMAAA!
Sim, é confuso mesmo.
Por isso eu resolvi escrever esse post, detalhando as especificações técnicas das mirrorless atuais da Canon para que você possa decidir em qual câmera vai investir.
Lembrando que existem basicamente dois tipos de fotógrafos no mundo:
- Os generalistas – Querem uma câmera para fotografar o que vier pela frente, qualquer ideia é válida, querem liberdade total.
- Os especialistas – Querem uma câmera para focar em um assunto específico: ensaios, paisagem, vida selvagem, esportes, arquitetura, eventos, etc.
É claro que com uma boa seleção de lentes, qualquer especialista vira um generalista, e vice-versa. Porém, é importante observar alguns detalhes importantes na câmera, para cada tipo de fotógrafo:
- Fotógrafos que fazem eventos sociais, esportes e vida selvagem tem um problema em comum a resolver: Precisam de alta velocidade na sequência de disparos (modo burst) e foco super preciso, para errar o mínimo possível. Por outro lado, normalmente esses fotógrafos não tem a necessidade de um sensor de alta densidade de megapixels (acima de 30 MP) pois normalmente fazem centenas, milhares de disparos, para ter material a selecionar e apresentar. Vamos lembrar que sensores de 30, 40, 50 megapixels ou mais geram arquivos enormes, congestionando tanto o fluxo de gravação no cartão de memória, quanto o download para o computador e o armazenamento futuro deste material.
- Já os fotógrafos de estúdio, paisagem, arquitetura, alimentos e produtos vivem outra situação. Não necessitam de um burst super rápido, pois as cenas a serem clicadas são mais “controladas” porém gostam de trabalhar com sensores full frame com mais de 40 MP para conseguirem fazer impressões grandes, seja para o mercado publicitário, ou para venda de quadros fineart.
- Por fim, os fotógrafos generalistas gostam de ter a liberdade de poder experimentar todo tipo de fotografia, por isso, quanto mais recursos para eles, melhor.
Antes de falar das câmeras…
É importante lembrar ao leitor(a) que não existe câmera perfeita. Nem da Canon, nem de qualquer marca. A tecnologia avança a passos largos, e o que era considerado fantástico há 5 anos, hoje é quase descartável. A inteligência artificial invadiu o mercado fotográfico e ninguém sabe onde isso vai parar, mas já vemos ela sendo usada tanto nas câmeras mais atuais quanto nos softwares de edição. Por isso, a sua decisão de compra deve ser consciente e condizente com o que você deseja evoluir na sua fotografia, para não ficar sempre aquele gostinho de “mas aquela outra câmera tem tal recurso…”, SIM! Sempre vai ter uma câmera com um recurso X que a sua não tem. mas e daí? O que importa é você estar conseguindo usá-la em sua totalidade, e evoluindo a sua fotografia.
Dito isso…
Vamos lá!
Em 2018 a Canon enfim lançou o seu novo sistema definitivo para as Mirrorless, o sistema R (depois de insistir por alguns anos no sistema M, que já foi descontinuado), lançando inicialmente a EOS R e depois a EOS RP.
Essas duas câmeras não agradaram tanto o público na época, pois vieram com recursos de DSLR em um corpo de mirrorless (os Sonyzeiros e Nikonzeiros fizeram muita chacota na época!) mas enfim em 2020 , plena pandemia, ela começou a soltar as feras, e em 3 anos apresentou diversas câmeras:
• EOS R3
• EOS R5
• EOS R6
• EOS R7
• EOS R8
• EOS R10
• EOS R50
• EOS R100
Dessas, até hoje (março/2024) apenas a R6 já foi atualizada, com o lançamento da ótima EOS R6 mark II.
*Atualização*: Em julho/2024, a Canon finalmente atualizou a R5, com a R5 mark II. Veja meu post sobre ela clicando aqui.
Quem conhece as nomenclaturas da Canon há muitos anos já sabe: quanto menor o número, mais TOP a câmera é. Então a R3 > R5 >R6 e por aí vai. A R100 por exemplo, é a caçula desse grupo , a câmera mais básica, de entrada.
O que confunde o pessoal é que, apesar de todas serem mirrorless, algumas são cropadas (APS-C) e outras são Full Frame, e essa distinção não é indicada no nome delas. Poxa Canon, podia mudar isso um dia né!
As cropadas são as mais básicas:
• R100, R50 e R10
E também a R7, que é a substituta natural da 7D, por anos a câmera queridinha dos fotojornalistas, pela sua robustez e high frame rate (burst alto).
Já as outras são as full frame:
• R3, R5, R6, R6 II, R8.
Olha essa dica
Se você está pesquisando sua próxima câmera na internet vendo fotos delas, tem um jeito fácil de saber rápido se ela é cropada, ou full frame. Ao ver a foto da câmera exibindo seu sensor, sem a lente conectada, você vai perceber que o sensor pode ser menor, centralizado no corpo, sem “tocar” o encaixe da lente, ou então maior, ocupando todo o espaço e “tocando” o encaixe circular da lente. As que tem o sensor menor são as cropadas, e a as que tem o sensor “tocando”as bordas são full frame. Veja na imagem abaixo:
E vamos de comparativos
A forma mais honesta de classificar câmeras é comparar seus atributos. Por isso elaborei esta tabela abaixo com as principais características das mirrorless Canon. Tomei a liberdade de não incluir as precursoras R e RP, pois, na minha opinião, são câmeras de uma “geração anterior” que não compartilham as qualidades das “R” pós-2020.
Abaixo da tabela, vamos destrinchar cada um desses itens.
Obs: Se a tabela não abrir direito no seu computador/celular, clique aqui para ver um JPG dela!
Especificações | EOS R3 | EOS R5 | EOS R6 | EOS R6 Mark II |
EOS R7 | EOS R8 | EOS R10 | EOS R50 | EOS R100 |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Lançamento | Abril/21 | Julho/20 | Julho/20 | Nov/22 | Maio/22 | Fev/23 | Maio/22 | Fev / 23 | Maio/23 |
Preço médio EUA | US$ 5.999 | US$ 3.899 | US$ 2.499 | US$ 2.499 | US$ 1.499 | US$ 1.499 | US$ 979 | US$ 679 | US$ 599 |
Corpo (material) | Liga de magnésio |
Liga de magnésio |
Liga de magnésio |
Liga de magnésio |
Liga de magnésio |
Liga de magnésio |
Plástico | Plástico | Plástico |
Sensor | Full Frame | Full Frame | Full Frame | Full Frame | APS-C | Full Frame | APS-C | APS-C | APS-C |
Tipo de sensor | Stacked CMOS |
CMOS | CMOS | CMOS | CMOS | CMOS | CMOS | CMOS | CMOS |
Megapixels | 24 MP | 45 MP | 20 MP | 24.2 MP | 33 MP | 24.2 MP | 24 MP | 24.1 MP | 24 MP |
Resolução máxima (pixels) | 6000 x 4000 | 8192 x 5464 | 5472 x 3648 | 6045 x 3946 | 6960 x 4640 | 6045 x 3946 | 6000 x 4000 | 6016 x 4016 | 6000 x 4000 |
Estabilizador no sensor | IBIS | IBIS | IBIS | IBIS | IBIS | Não | Não | Não | Não |
Processador | Digic X | Digic X | Digic X | Digic X | Digic X | Digic X | Digic X | Digic X | Digic 8 |
Range de ISO | 100 – 102.400 | 100-51.200 | 100 – 102.400 | 100 – 102.400 | 100-32.000 | 100 – 102.400 | 100 – 32.000 | 100 – 32.000 | 100-12.800 |
Nº de pontos de foco | 4.779 | 5.940 | 4.897 | 4.897 | 5.655 | 4.897 | 4.503 | 4.503 | 3.975 |
Reconhecimento de face/olho | Sim e outros | Sim | Sim | Sim | Sim | Sim e outros | Sim | Sim | Sim |
Veloc. obturador min/max | 30″ a 1/64000 | 30″a 1/8000 | 30″a 1/8000 | 30″ a 1/16000 | 30″ a 1/8000 | 30″ a 1/16000 | 30″ a 1/4000 | 30″ a 1/8000 | 30″ a 1/4000 |
Qtd. frames por segundo | 30 fps (eletrônico) 12 fps (mecânico) |
20 fps (eletrônico) 12 fps (mecânico) |
20 fps (eletrônico) 12 fps (mecânico) |
40 fps (eletrônico) 12 fps (mecânico) |
30 fps (eletrônico) 15 fps (mecânico) |
40 fps (eletrônico) 6 fps (mecânico) |
23 fps (eletrônico) 15 fps (mecânico) |
15 fps (eletrônico) 12 fps (mecânico) |
6.5 fps (eletrônico e mecânico) |
Video (qualidade máxima) | 6k / 60p | 8k / 30p | 4k / 60p | 4k / 60p | 4k / 30p | 4k / 60p | 4k / 30p | 4k / 30p | 4k / 24p |
Cartão de memória | 2 slots: SD e CF Express | 2 slots: SD e CF Express | 2 slots SD | 2 slots SD | 2 slots SD | 1 slots SD | 1 slot SD | 1 slot SD | 1 slot SD |
Proteção contra água/poeira (selada) |
Sim | Sim | Sim | Sim | Sim | Sim | Não | Não | Não |
Bateria suporta até | 760 fotos | 320 fotos | 360 fotos | 360 fotos | 660 fotos | 290 fotos | 460 fotos | 450 fotos | 340 fotos |
Dimensões | 150 x 143 x 87mm | 138 x 98 x 88mm | 138 x 98 x 88mm | 138.4 x 98.4 x 88.4mm | 132 x 90 x 92mm | 133 x 86 x 70 mm | 126 x 88 x 83mm | 116 x 86 x 69 mm | 116.3 x 85.5 x 68.8mm |
Peso | 1015 g | 738 g | 680 g | 670 g | 612 g | 460 g | 426 g | 375 g | 356g |
Vamos comentar cada item?
Vamos.
1. Lançamento
A data de lançamento da câmera não significa inicialmente muita coisa, é apenas uma referência para você saber desde quando ela está no mercado, e tentar calcular que de repente pode estar próximo do lançamento de uma nova versão daquela câmera. O sensor das câmeras está sempre evoluindo, assim como o processador, por isso uma câmera muito “antiga” também pode estar um pouco defasada nestes quesitos.
2. Preço médio nos EUA
Este preço é a base de valor quando a câmera foi lançada, nos EUA, em dólar. Normalmente ele se mantém fixo, até que a Canon lance uma atualização daquela câmera (as atualizações são chamadas de ” Mark II, Mark III, Mark IV”, e por aí vai) e aí nesses momentos de atualização, o preço pode cair consideravelmente, muitas vezes sendo um bom momento para você comprar a câmera que teoricamente vai sair de linha, mas que te serve muito bem. A planilha acima foi organizada da câmera mais top (R3) para a mais básica (R100) e você pode ver isso claramente refletido no preço.
3. Corpo (material)
Aqui começamos a dividir bem os produtos. As câmeras de liga de magnésio são de metal, mais robustas, resistentes a intempéries, enquanto as câmeras de plástico são boas, mas claramente menos robustas. Não significa que as de plástico vão quebrar na sua mão, claro que não, mas existe sim uma diferença de resistência no corpo da câmera. Isso não tem a menor diferença para quem fotografa indoor, em estúdio e ambientes controlados, mas uma boa diferença para quem fotografa outdoor. As câmeras de plástico normalmente não tem resistência a água nem são seladas contra poeira, já as de liga de magnésio, sim.
4. Sensor
Este também é um item fundamental. As câmeras de sensor Full Frame são as que o sensor tem aprox. 35mm de comprimento, fazendo pleno uso das lentes. Então se você conecta uma lente 70mm na sua câmera Full Frame, significa que ela vai atingir exatamente os 70mm de distância focal. Além disso, as câmeras “FF” (Full Frame) captam mais luz, pois o sensor é grande. Mais luz = mais qualidade na imagem. E tem mais: sensores FF dão um melhor desfoque no fundo da sua foto, pois como são maiores, conseguem trabalhar com uma profundidade de campo menor. Neste grupo das câmeras FF estão a R3, R5, R6 e R6 Mark II, e a novata R8, chamada pela própria Canon como uma “Full frame de entrada” pelo seu preço competitivo e menos recursos.
Já as câmeras com sensor APS-C, são chamadas de “cropadas”, pois o sensor é ligeiramente menor, com + – 22mm de comprimento. Dessa forma, é como se ela trabalhasse sempre usando apenas o “miolo” das lentes, só a parte central do fotograma mesmo, provocando um zoom obrigatório. Então uma câmera APS-C com a mesma lente 70mm na verdade estará alcançando 112mm de zoom, (70 x 1.6, que é o fator de crop da Canon). O problema é que o mercado convencionou a nomear as lentes sempre com a distância focal das Full Frame, por isso se você vai comprar uma lente 24-105mm para a sua câmera APS-C, saiba que ela sempre vai trabalhar em 38-168mm. Com isso, o desfoque no fundo sempre fica mais nítido do que o das câmeras FF. Neste grupo das câmeras R da Canon, estão a R7 (sucessora da 7D, que também era cropada), a R10, R50 e a R100. Um detalhe importante: a R7 (assim como a antiga 7D) é considerada uma “cropada profissional”, diferentemente da R50 e R100 que são câmeras mais básicas mesmo.
5. Tipo de sensor
99,99% das câmeras fotográficas digitais usam sensor do tipo CMOS, (o outro tipo se chama CCD, mais usado em filmadoras profissionais), mas eu separei esse item por causa da R3, que tem um “stacked CMOS” ou seja, são 2 sensores empilhados! Eu não vou entrar nas profundezas técnicas dessa tecnologia, mas o sensor empilhado permite uma melhor captação de luz gerando imagens com menos ruído, aumentando também a velocidade que ele se comunica com o processador. Outras câmeras que tem o tal sensor empilhado são a Sony A1 e A9 II, as Nikon Z8 e Z9, entre outras. É claro que embutir essa tecnologia em uma câmera aumenta o seu preço de venda.
6. Megapixels
A pergunta que todo mundo faz né? “quantos megapixels tem essa câmera?” Essa questão é especialmente importante para aqueles que precisam de imagens limpas, sem ruído, e também os que vão fazer grandes ampliações / impressões das suas fotos. Muitos megapixels também te permitem cropar bastante a foto e ainda ter um pedaço daquela foto em tamanho considerável.
Como experiência própria (desde 2010 imprimindo e vendendo minhas fotos) posso garantir que, um mínimo de 22 megapixels já é ótimo para impressões.
Pela tabela podemos ver que todas as câmeras da linha R cumprem bem esse requisito, a exceção da R6, que foi lançada com decepcionantes 20 megapixels (provavelmente para afastá-la bem da R5, que tem 45 MP e foi lançada no mesmo dia) mas a R6 Mark II veio com 24 megapixels mostrando que a Canon prestou também atenção nisso (muuiita gente reclamou desses 20MP no lançamento).
A R5 foi lançada para ser o principal “workhorse” profissional por isso colocaram ela com ótimos 45MP, mas impressiona muito os 33MP da R7, que é uma camera tradicionalmente usada por fotojornalistas e fotógrafos de esportes e vida selvagem. Será que precisava? Lembrando que, quanto mais megapixels, maior o tamanho do arquivo, mais HD você precisa, mais lento é o processo de transferência dos arquivos, etc.
7. Resolução máxima (pixels)
Essa questão está totalmente conectada à quantidade de megapixels. Na verdade, a quantidade de megapixels do sensor é a multiplicação dos pixels da largura, com os pixels da altura do sensor.
Vejamos a Canon R100 por exemplo, que gera um arquivo em RAW com 6.000 pixels de largura, por 4.000 pixels de altura. Se multiplicarmos essas medidas, (6.000 x 4.000) chegamos ao número de 24.000.000 (24 milhões) ou 24 megapixels, que é a resolução do sensor. Esse arquivo gerado pela R100 (e outras câmeras com os mesmos 24 MP) ja sai da câmera com incríveis 50cm de comprimento (eu falo mais sobre essa conversão de pixels para centímetros no meu curso sobre impressões fineart)
8. Estabilizador no sensor
O estabilizador no sensor é uma novidade trazida pelo mundo mirrorless (acredito que foi criado pela Minolta lá em 2003) mas se popularizou mesmo nas Sony, e agora é presente nas mirrorless Canon. As câmeras DSLR não tem essa tecnologia; o que elas tem, é o estabilizador de imagem na LENTE, e não na câmera.
O estabilizador no sensor funciona da seguinte forma: O sensor fica preso no corpo da câmera, em um engenhoso sistema de amortecedores que compensam os movimento da câmera por parte do fotógrafo, para garantir uma foto nítida. Chamamos esse sistema de IBIS – In Body Image Stabilization, e certamente é algo que impacta no valor da câmera. O IBIS fica ligado o tempo todo, e calcula quantos milímetros ele precisa compensar, de acordo com cada movimento.
Com o IBIS, já é possível fazer fotos com até 1 segundo de exposição, com a câmera na mão – com uma DSLR normal, é muito difícil obter uma foto nítida com mais de 1/30 de exposição segurando a câmera. A diferença pode parecer pouca, mas de 1/30 para 1 segundo são 5 pontos de luz, ou seja, uma foto sendo feita com ISO 3.200 e 1/30, de velocidade, poderia ser feita com ISO 100 e 1 segundo de exposição, usando uma câmera com IBIS.
Eu falo mais sobre como contar os pontos de luz no meu curso de fotografia de paisagem.
Repare que a R8, apesar de ser full frame, não tem o IBIS, justamente para baratear o produto. As cropadas da linha R também não trazem o IBIS, menos a R7, que é cropada e tem a tecnologia. Esse sistema é fundamental hoje para quem fotografa com a câmera na mão, (eventos, shows, casamentos, fotojornalismo, esportes, vida selvagem, etc) mas para aqueles que fazem uma foto mais “controlada”, e/ou utilizam o tripé pelo menos 80% do tempo (muitos fotógrafos de paisagem, arquitetura, produtos, alimentos) o IBIS não faz a menor diferença, pois com a câmera estabilizada no tripé não há necessidade de um estabilizador interno.
9. Processador
O processador é o “coração” da câmera. É ele que processa a luz captada pelo sensor e transforma em um arquivo digital, a sua foto. A Canon vem tradicionalmente chamando seus processadores de “DIGIC” (Digital Imaging Integrated Circuit) desde os anos 2000, e está na versão 10 (ou X), que são os mais modernos que a marca já fez. (até o final dos anos 90 ela usava processadores fabricados por terceiros, mas quebrou esse padrão em 1999 e introduziu o seu próprio processador na Powershot S10, e posteriormente, incorporou na linha EOS, com a 10D, em 2003, já com o nome de DIGIC). Mas o processador não faz só isso; ele também interpreta a luz captada pela câmera, antes do disparo, para te dar a fotometria correta através do fotômetro ; controla o foco; o sistema de estabilização; enfim todas as funções eletrônicas da câmera passam por ele.
Cada versão do DIGIC foi importante na sua época de lançamento para implementar melhorias em determinadas características da câmera. O DIGIC III, por exemplo, lançado em 2006, trouxe imagens com mais resolução e o suporte a detecção facial por parte do foco; já o DIGIC 8, de 2018, melhorou as funções de video em 4k. O DIGIC 8 era o chip mais avançado da Canon até então (e equipa a “caçulinha” R100) até 2020, quando ela “pulou” a numeração e apresentou o DIGIC X, próprio para câmeras mirrorless mais avançadas, pois permite a gravação de videos acima de 4K e suporta algoritmos de inteligência artificial. É o DIGIC X que equipa todas essas câmeras do nosso comparativo, exceto a R100, que vem com o DIGIC 8. Como complemento, o DIGIC 8 também equipa as duas câmeras que eu não coloquei no comparativo, a R e a RP.
10. Range de ISO
Esse tema é importante para quem trabalha em condições adversas, sem controle da luz, como eventos, paisagem, esportes, vida selvagem. Basicamente, quanto maior o range de ISO, mais luz você poderá captar aumentando o sinal de captura do sensor através do ISO alto. Porém quanto mais alto o ISO, mais ruído a imagem tende a ter. Nas câmeras mirrorless, essa questão do ruído é muito menor do que nas DSLR, e ainda mais hoje em dia com ótimas ferramentas de redução de ruído no mercado (como o atual Noise Reduction AI incorporado ao Lightroom, ou o Topaz DeNoise) a tendência é que, em poucos anos o ruído não seja mais um problema para o fotógrafo. Como podemos ver na tabela, a faixa de ISO vai do ISO 100 aos 32.000 nas cropadas (exceção da R100, que só vai até 12.800) enquanto as Full Frame estendem seus ISOs até 51.200 (R5) e 102.400 (R3, R6 e R8). É importante lembrar que nem sempre esse ISO máximo entrega uma qualidade aceitável de imagem. É preciso testar, e o próprio fotógrafo vai saber até qual ISO ele considera aceitável.
11. Número de pontos de foco
Esse é o tema mais importante (ou um dos mais!!) para os fotógrafos de cenas de ação: esportes, vida selvagem, eventos sociais, festas, etc. Aqui a regra é: quanto mais pontos de foco, menor a chance de o fotógrafo errar a foto por falta de foco. Para quem está acostumado a fotografar com as DSLR digitais, que variam entre míseros 8 pontos e aceitáveis 80, 90 pontos de foco, ter mais de 1.000 pontos de foco a sua disposição parece um luxo. E é. A assertividade do foco automático é um dos grandes pontos positivos das mirrorless em relação as gerações anteriores de câmeras digitais. Hoje essa câmeras tem entre 3 e 5 mil pontos de foco (!!!!) espalhados por praticamente 100% da área da imagem, ou seja não dá pra perder mais o foco. Porém, para os fotógrafos de paisagem, que fotografam 90% do tempo no foco manual, essa quantidade imensa de pontos de foco não faz a menor diferença.
12. Reconhecimento de face/ olho
Esse item está totalmente relacionado ao anterior. As mirrorless não só tem milhares de pontos de foco, como também tem a tecnologia para reconhecimento facial e corporal, tanto de pessoas, como de animais, e inclusive reconhecimento de olho, para manter o foco o tempo todo “cravado” no olho de quem você esteja fotografando, seja a noiva em um casamento, ou uma onça-pintada no Pantanal. E essa tecnologia vem sendo aprimorada e ganha novas funcionalidades a cada atualização do firmware das câmeras (e você pode atualizar a sua câmera, saiba mais aqui)
Na versão 1.4.0 do firmware da R3 por exemplo, a Canon anunciou que agora será possível “marcar” certas faces para que a câmera fixe o foco sempre nelas, como preferência – ideal para casamentos por exemplo, para a câmera não ficar pulando o foco entre faces ao redor da noiva e do noivo! Já a R5 consegue detectar carros e motos por exemplo. É até difícil listar aqui as funcionalidades do reconhecimento inteligente de face/olho dessas câmeras pois isso muda e se aprimora o tempo todo.
13. Velocidade máxima do obturador
Nesse item as câmeras R comparadas nesse post praticamente se igualam. Isso porque quase tudo pode ser “congelado” em uma fotografia com 1/4000 ou 1/8000 de velocidade. As super velocidades apresentadas pela R3 (1/64.000!!) e R6 Mark II e R8 (1/16.000) cumprem funções muito específicas, como fotografias experimentais de gotas tocando a água, etc. Por outro lado, todas se igualam com 30 segundos de exposição máxima, sem uso do modo Bulb.
14. Quantidade de Frames por Segundo
Outro item que interessa muito a quem trabalha com ação, como fotógrafos de vida selvagem, esportes, eventos sociais, fotojornalistas, onde tudo acontece na sua frente, e você precisa captar. Todas essas câmeras tem um modo de disparo chamado “Burst” ou “disparo contínuo” ou seja, enquanto você segura o botão de disparo, ela clica ininterruptamente, várias fotos (até acabar o buffer, mas isso é outra história). A questão é: quantas fotos ela clica por segundo? Antigamente, nas DSLR, essa era uma resposta única. “minha câmera faz 7 fotos por segundo, ponto final”. Nas mirrorless, são duas respostas para cada câmera. Isso porque as mirrorless tem duas opções de disparo.
A primeira é a opção de usar o disparador “normal” igual ao das DSLR: uma cortina (física mesmo), que abre e fecha na frente do sensor, para deixar a luz entrar. Já a segunda opção é o disparador eletrônico, ou seja, a cortina fica sempre aberta, mas o sensor só “liga” para receber a luz na hora que você dispara. Como o mecanismo de abrir e fechar a cortina é mecânico, é óbvio que “ligar e desligar” o sensor é muito mais rápido, por isso as mirrorless tem 2 respostas para a clássica pergunta “quantas fotos por segundo a sua câmera faz?” . Normalmente, a quantidade de fotos por segundo é muito maior com o disparador eletrônico, do que com o mecânico. Lembrando que esse recurso de duas opções é característico das câmeras um pouco mais caras, sendo as de entrada normalmente só tem o mecânico. ( Não vou entrar no mérito aqui de qual disparador é melhor, eletrônico ou mecânico, mas se você quiser se aprofundar nisso, pode ler aqui. )
Esse é um tema que também se atualiza a cada lançamento. Quando a R3 foi lançada com 30 fps (frames por segundo), foi um assombro, é muita foto em apenas 1 segundo!! Mas logo depois a Canon lançou a R6 mark II, e a R8, ambas com 40 frames por segundo (!). Logo em seguida, a Sony apresentou a Alpha 9 III, com absurdos 120 fps! Não sabemos onde isso vai parar, mas pode ter certeza que 20, 30 fotos por segundo é o suficiente para pegar todos os movimentos da ação.
15. Video (qualidade máxima)
Esse tema não entra na nossa pesquisa sobre a câmera fotográfica ideal, mas como muita gente hoje também faz video, decidi colocar. A campeã aqui é a R5, que filma em 8K (quando foi lançada, ela esquentava muito ao atingir essa resolução, mas depois de algumas atualizações de firmware, resolveram esse problema), enquanto a R3 filma em 6K, e as outras ficam no tradicional 4K.
16. Cartão de Memória
A maioria das câmeras R da Canon apresentam uma ou duas entradas para o tradicional cartão SD. A exceção fica por conta da R5 e da R3, que tem uma entrada para SD e outra para o cartão CF Express, uma “nova” categoria de cartão, um híbrido entre o SD e o antigo CompactFlash. Esse cartão CF Express tem leitura e gravação 10x superior aos SD, fundamental para gravação de videos em alta resolução. Algumas funções dessas câmeras para elevar ainda mais a quantidade de disparos por segundo também precisam destes cartões CF Express, especialmente a R5, pelo tamanho avantajado de seus arquivos RAW.
17. Proteção contra água / poeira
Este item está relacionado ao tipo do corpo da câmera, como comentei anteriormente. As câmeras de liga de magnésio tem o corpo “selado” contra água e poeira. Claro que não são a prova d’água, não se pode mergulhar com uma câmera dessas sem uma caixa-estanque, porém podem ser usadas debaixo de chuva por exemplo. São as câmeras seladas as ideais para situações outdoor – esportes, vida selvagem, paisagem, eventos ao ar livre, etc. Quem fotografa em estúdio e/ou ambientes internos não tem essa preocupação. É claro que as câmeras não-seladas (R10, R50, R100) podem ser usadas em ambientes externos sem problemas! (você viu o meu field test com a R100 no Pantanal?) mas em uma situação crítica de chuva, tempestade de areia, ou coisas do gênero, elas podem dar algum B.O., sim.
18. Bateria
Esse é outro item importante para quem fotografa em situações extremas e que não vai poder carregar a bateria tão cedo durante o dia, como vida selvagem, eventos sociais, esportes, foto sub, fotojornalistas, etc. Quanto mais a bateria aguenta, menos baterias você precisa carregar consigo!
Antigamente as primeiras Sony mirrorless aguentavam cento e poucos disparos por bateria, o que obrigava os fotógrafos a ter uma mochila com 5, 6 baterias extras. Isso foi melhorando ao longo do tempo, mas ainda não alcançamos a performance das DSLR nesse quesito, por uma questão simples: As mirrorless são muito eletrônicas! Tem centenas de sensores, milhares de pontos de foco, IBIS ligado o tempo inteiro, visor EVF (os da DSLR são óticos) então tudo isso consome muita bateria.
Repare na tabela que, tirando a R3, (que tem um tamanho maior, porque tem uma bateria incorporada na parte de baixo do corpo dela) todas as outras oscilam entre 300 e 400 fotos por bateria. A exceção fica por conta da R7, que conta 600 fotos por bateria – mas ela vem com a LP-E6NH, uma bateria de maior capacidade da própria Canon. Na verdade esses números variam bastante em todas as câmeras, entre usar a tela ligada ou o EVF para fotografar, ou desligar alguns itens como wifi/ gps etc podem aumentar a quantidade de fotos por bateria carregada.
19. Dimensões
Aqui vemos uma diferença brutal de tamanho. A R3 é notavelmente maior porque como eu disse anteriormente, tem uma bateria integrada ao corpo. As “irmãs” R5, R6 e R6 Mark II tem praticamente o mesmo tamanho. Logo depois vem a R7, visivelmente mais larga que a a R8, que é bem pequena, mas ainda maior do que as câmeras de entrada, que são minúsculas! No meu video com a R100 no Pantanal dá pra ver como ela é super pequena.
20. Peso
Câmeras maiores, peso maior. Ainda assim são muito mais leves do que as tradicionais DSLR. Esse é um ponto a favor das mirrorless. Por não terem o espelho dentro do corpo para desviar a luz até o viewfinder, elas podem ser muito menores e mais leves. Pode parecer pouco, uma R5 com 700g (sem lente) comparada a uma 5D Mark IV (sua sucessora no mundo das DSLR) com 900g, mas não é. Quem fotografa por horas a fio com a câmera no braço sabe que qualquer grama faz diferença!
Esse quesito peso, aliado ao das medidas da câmera, também interessa bem a quem gosta de viajar e fotografar, pois quanto menor e mais compacta a câmera, melhor!
Ufa! Foi tudo!
Mas não é só isso!
Essas câmeras tem dezenas de outras funcionalidades, que umas tem, outras não tem, e tudo isso vai impactar na sua escolha final. Ficaríamos meses aqui comparando cada feature das câmeras da linha R da Canon. Por isso, escrevi esse post para que você possa ter uma noção básica de quais são as câmeras, e as principais diferenças entre elas, para tentar reduzir sua escolha a 2, no máximo 3 modelos, e ai sim fazer um comparativo mais crítico, pesquisando no Google, assistindo videos no Youtube, etc.
Mas.. pra facilitar a sua vida, vou dar a minha opinião!
1. Se você está começando na fotografia:
- Pode ir sem medo na EOS R100.
- Se puder investir um pouco mais, considere a EOS R50! Ela é mais câmera, em um corpo do mesmo tamanho!
2. Se você está migrando de uma DSLR cropada, básica ou intermediária (SL2, SL3, 70D, 77D, 80D, 90D ) para uma mirrorless Canon:
- Considere, no mínimo, a EOS R10. Ela é pau-a-pau com a SL3, e fica no limite com a 90D. A Canon sempre teve muitos modelos intermediários, como os citados acima, mas ainda não lançou tantos assim para o mundo mirrorless.
- Dá pra fazer um comparativo minucioso com a EOS R50 também, porque ela é superior em alguns aspectos, e bem mais barata!
- Se puder investir mais, considere a EOS R7, ou mesmo a EOS R8, saltando para uma câmera full frame!
3. Se você já tem uma full frame DSLR e deseja migrar para o mirrorless:
- A melhor full frame mirrorless Canon hoje, (março/2024) em termos de custo-benefício, é a EOS R6 Mark II. Não é absurdamente cara como a EOS R5, mas é mais robusta e entrega mais recursos do que a EOS R8.
- Se a grana estiver curta, pense na EOS R8. Vai ser um excelente começo no mundo mirrorless.
- Se tiver como investir, a EOS R5 é A câmera! Mas atenção: Vários sites de tecnologia indicam que o lançamento da R5 Mark II será em 2024, e alguns sites indicam o mês de abril como a data certa! A Canon não confirma nem desmente.
- Se dinheiro não for um problema, considere a EOS R3, a câmera mais tecnológica já lançada pela Canon. Porém prepare-se para um equipamento maior, e mais robusto.
Ufa (2)!
É isso! Aproveite as dicas, faça suas escolhas consciente, e depois me conta lá meu Instagram @marcellocavalcanti1, qual câmera você escolheu! Ou se ainda ficou alguma dúvida, me pergunta lá no direct!
Abraços,
Marcello
SOBRE O AUTOR
Marcello Cavalcanti
Fotógrafo outdoor com 20 anos de experiência. Youtuber com o canal Por Trás da Foto, professor de fotografia presencial e online, idealizador dos Cursos Online Fotografia de Paisagem., Filter Masters by K&F Concept, A Caixa Preta do Fineart, Lightroom Classic Completo, e vencedor de prêmios relevantes no cenário da fotografia de paisagem e natureza. Cadastre-se na minha newsletter para ficar sabendo dos novos lançamentos, promoções e dicas de fotografia!