Afinal, que espaço de cor devo utilizar ?
sRGB? Adobe RGB? ProPhoto? CMYK?
E o que é isso afinal?

Essa é uma pergunta recorrente que recebo nos inboxs da vida. Resolvi responder por aqui, e da forma mais objetiva possível!

1. O que é “espaço de cor”?

Pegando da Wikipedia, que está muito didático: ” Um espaço de cores é uma organização específica de cores. Em combinação com o perfil de funcionamento de um dispositivo físico (sua câmera, seu monitor, seu celular, sua impressora.. ) permite representações reprodutíveis de cor, em tanto representações analógicas (print) quanto digitais (tela).

2. Porque existe isso?

Nos anos 90, a expansão da informática mudava a forma como as pessoas consumiam imagens. Antes dos computadores, você poderia ver uma imagem apenas em uma tv, no cinema, ou impressa em jornais ou revistas, ou uma foto revelada. Com a chegada dos computadores pessoais, as imagens começaram a ser vistas – mal emporcamente na época – nos mais diversos monitores, primeiro monocromáticos e depois coloridos, com parcas 12 cores no começo.

Então, para que uma pessoa visse corretamente uma imagem que você produziu, era basicamente uma questão de sorte, pois o monitor da pessoa A poderia ser completamente diferente do monitor da pessoa B. Para padronizar a visualização, era necessário instalar o ICC Profile (Perfil de cor) do criador da imagem, para que ela pudesse ser corretamente interpretada pelo visualizador. Imprimir corretamente na sua home printer então, era um milagre. Além disso, a instalação desse perfil de cor, para cada conjunto de imagens de cada criador de imagens, custava preciosos kbytes de memória.

3. O padrão sRGB

Em 1996, duas empresas que ditavam as regras da informática na época – Microsoft e HP –  se uniram para criar o padrão sRGB (“Standard Red Green Blue”) . Essas 3 cores somadas criam, teoricamente, todas as cores existentes, e já era o padrão de cores utilizado nos monitores CRT (tubo) assim como as TVs da época. Esses aparelhos tinham um tubo de luz dentro deles, apontados para a tela, com canhões de eletróns: um vermelho, um verde e um azul. O sRGB então viria para servir como padrão universal, resolvendo a questão dos perfis individuais de cor; a partir de agora, todos os softwares Microsoft assim como impressoras HP usariam esse padrão sRGB como base para suas cores, facilitando a vida de 90% dos usuários de computadores, pois o Windows era o sistema operacional vigente e a HP dominava o mercado de impressoras caseiras e de empresas e escritórios.

Após a sua criação, rapidamente outras empresas adotaram o sRGB como padrão de cor, como a Intel, Corel, Pantone, entre outras, tornando-o praticamente o padrão universal de cor para qualquer situação de cor em monitor. Veja no gráfico abaixo, qual gama de cores o padrão sRGB pega, dentro do espectro total de cores:

Este gráfico mostra o espectro total de cores que enxergamos, e o triangulo preto marca as cores representadas pelo sRGB. Segundo seus criadores, dentro deste triângulo há cores suficiente para representar todas as cores que precisamos em uma tela de computador. Com a chegada da internet, no final dos anos 90, os navegadores e a W3C também adotaram o sRGB para o uso na web, portanto é, até hoje, o padrão de cores para uso em ambiente online – sites, redes sociais, etc.

Isto já responde uma das perguntas mais básicas que me fazem sempre: “Qual padrão de cor devo usar para minhas fotos na internet? Resposta: sRGB. “

4. O padrão Adobe RGB

No ano seguinte, 1997, a Adobe, na época uma já respeitada software house, dona do Photoshop, PageMaker (que virou o InDesign), Premiere e outros programas conhecidos, resolveu criar o padrão dela, aumentando a gama de cores do seu espectro, principalmente para puxar cores menos saturadas e aproximá-las do padrão das gráficas, que é outro: o CMYK.

(Rápido parênteses sobre o CMYK: É o padrão de cores utilizado por gráficas que imprimem por fotolito. São 4 cores de tinta bases: Ciano, Magenta, Amarelo (Y) e Preto (K). Essas 4 tintas em diferentes quantidades produzem uma gama enorme de cores, mas muito mais opacas, menos brilhantes).

O Photoshop e o PageMaker eram programas padrões para as gráficas. Elas precisavam de um padrão de cores que, quando convertido para o da impressora deles (CMYK) não se perdesse tanto. Por isso, no ano seguinte, a Adobe lançou, junto com o Photoshop 5.0, o Adobe RGB (1998) incorporado.

O gráfico ao lado mostra como o padrão Adobe RGB engloba mais cores do que o sRGB, principalmente nos tons de azul e verde. O Adobe RGB é mais usado quando se vai dar uma saída no arquivo em forma de impressão fine-art, ou seja, uma impressão feita por uma impressora especial, (não são as impressoras caseiras) normalmente com 8 ou 12 cartuchos de cor, especificamente equilibrada em conjunto com o programa que dará esta saída de impressão (Photoshop, Illustrator, etc). Também é usado para arquivos que futuramente vão para uma impressão de gráfica, para livros, revistas, jornais, etc, que seguem o padrão CMYK. Para estes casos, a conversão do padrão RGB para CMYK se dá de forma mais suave. O padrão Adobe RGB está incorporado em todos os programas da Adobe.

4. O padrão ProPhoto RGB

A evolução da imagem digital seguiu ao longo dos anos e, em 2003, a Kodak lançou o ProPhoto RGB. A ideia era replicar com o máximo de fidelidade as cores obtidas pelo filme para slides Ektachrome, da própria Kodak. Vamos lembrar que, no início da década de 2000, a transição da fotografia analógica para a digital acontecia de forma turbulenta, com muitos fotógrafos ainda duvidando que a fotografia digital realmente vingaria.

O padrão de cor ProPhoto RGB seria tão revolucionário e fiel às cores, criado justamente para fotógrafos, que engloba muito mais do espectro de cores vistas a olho nu, e teria ainda cerca de 13% a mais de cores que o olho humano não consegue ver, conforme o gráfico ao lado. Ele é tão poderoso que só deve ser usado em arquivos 16-bit, para comportar tal gama de cores, caso contrário , se usado em 8-bits, vemos claramente o efeito “banding”nas imagens, que são aquelas passagens de cor marcadas por linhas divisórias, sem a suavidade que vemos na vida real. Este padrão é o adotado pelos arquivos RAW da câmera, ou seja, ao fotografar em RAW, o espaçø de cor não está definido, ele está utilizando o mais completo que é o ProPhoto RGB. Ao baixar o arquivo no Lightroom por exemplo, ele continua usando este espaço de cor; apenas ao exportar o seu arquivo para um formato válido – JPG, TIF, PSD, etc – é que você irá definir qual espaço de cor quer utilizar, se Adobe RGB, sRGB, ou manter no ProPhoto. Como contra, o ProPhoto deixa o arquivo beeem mais pesado.

5. E a profundidade de bits? 8 bits, 16 bits..

Parece difícil mas não é. A profundidade de bits ou profundidade de cores é a quantidade de bits usados para representar a cor de um único pixel  da sua foto. 

A base da fotografia é de 8 bits por pixel, ou seja, cada pixel pode representar 2 elevado à 8º potência, ou seja, 256 cores. Porém a câmera capta as cores com pixels vermelhos, azuis e verdes. Ou seja, serão 256 tons de vermelho, 256 de azul, 256 de verde. Isso dá um total de 256 x 256 x 256 = 16.777.216 valores de RGB, ou 16 milhões de cores.

É por isso que, ao selecionar uma determinada cor com o “color picker”na sua foto, você terá a representação dela em números, que vão de 0 a 255, totalizando 256 opções de cor.

Porém, ao se trabalhar com fotos de 16 bits, você chega a um número absurdo de 281 trilhões de cores. O olho humano não consegue perceber tantas cores diferentes, (paramos nos 16 milhões mesmo) mas a vantagem de se trabalhar com essa fartura de cores é diminuir o efeito “banding”, deixando superfícies degradê da foto mais suaves, como céus azuis, tons de cinza/preto, etc.

Repare nesta imagem, com o Color Picker selecionei um tom aleatório de marrom do Morro Dois Irmãos. O Photoshop localiza a cor no espectro e me responde os valores de cada canal R G B. Cada cor tem uma combinação única de valores.

6. Já conheço os espaços de cor. Agora, qual devo utilizar na minha fotografia?

Aí é que está a dúvida de todo mundo. Qual espaço de cor adotar?

A verdade é que o espaço de cor só pode ser visto, seja na tela ou numa impressão, caso todos os elementos envolvidos suportem reproduzir aquelas cores.
O seu monitor exibe cores além do sRGB? A impressora que vai imprimir a sua foto, imprime cores além do sRGB? E o papel escolhido, responde à essas cores além do sRGB?

A maioria esmagadora dos fotógrafos não sabe se o próprio monitor exibe cores além do sRGB, essa é a verdade. Porque a maioria dos monitores não exibe, os que exibem são mais caros. No meu computador de edição , eu utilizo o monitor Dell Ultrasharp 30″ modelo U3014, que entrega, segundo o fabricante, 99% de fidelidade de cor do sRGB e do Adobe RGB. Nesse caso, eu posso escolher trabalhar em algum desses espaços de cor, e ajustar o monitor para ele, que terei as cores na tela. Já o meu laptop Macbook Pro 2013, com tela Retina, cobre 100% do sRGB e 75% do Adobe RGB, segundo a Apple. Isso significa que, trabalhando com o Adobe RGB no Photoshop por exemplo, posso ter dificuldade com algumas cores, principalmente tons de verde.

• FOTOGRAFANDO EM RAW
Fotografando em RAW, o espaço de cor está indefinido, ele só será definido ao exportar a imagem no Lightroom ou Photoshop. Portanto, Se você fotografa em RAW, tanto faz a setagem da câmera. 

• FOTOGRAFANDO EM JPG
Se você está fotografando em JPG, ou não sente segurança para fotografar em RAW, ou precisa de muita agilidade na entrega das fotos – fotojornalistas, fotógrafos de esportes e eventos costumam clicar em JPG. Nesse caso eu recomendo o sRGB na câmera e em todo o processo, pois pela dinâmica da foto, provavelmente não será preciso uma fidelidade de cor tão detalhada, o clique é mais importante do que a extensão de tons de amarelo por exemplo.

• IMPRESSÃO
Vai imprimir uma foto? Converse com o seu impressor antes. Pergunte a ele qual padrão de cor ele utiliza normalmente com a impressora dele. Não adianta você salvar o arquivo em ProPhoto 16-bit se ele vai imprimir em sRGB. Todas aquelas cores extras serão padronizadas para tons dentro do sRGB. Mas, em linhas gerais, caso você esteja fotografando para uma série que será impressa, eu recomendo fortemente ter os arquivos em RAW, com a possibilidade de exportá-los em Adobe RGB ou ProPhoto 16-bit, principalmente se a saída for para o mercado FineArt.

• INTERNET
Se o destino final das suas imagens é a internet, seja para colocar num site, no Instagram, no Facebook, no Youtube, qualquer plataforma digital, não tenha dúvidas em salvar seu arquivo com o espaço de cor sRGB. Por ser ligeiramente menor do que os outros, ele sempre deixa o arquivo mais leve, além de ser o padrão universal adotado por todos os aplicativos rodando web.

É isso! Acho que me estendi mais do que deveria, mas é sempre bom entender a origem das coisas antes de entender o porquê.

Abraços, até a próxima!

SOBRE O AUTOR

Marcello Cavalcanti

Fotógrafo outdoor com 20 anos de experiência. Youtuber com o canal Por Trás da Foto, professor de fotografia presencial e online, idealizador dos Cursos Online Fotografia de Paisagem., Filter Masters by K&F Concept, A Caixa Preta do Fineart, Lightroom Classic Completo, e vencedor de prêmios relevantes no cenário da fotografia de paisagem e natureza. Cadastre-se na minha newsletter para ficar sabendo dos novos lançamentos, promoções e dicas de fotografia!