Se você gosta MESMO de astrofotografia, especialmente a conhecida como “deep objects”, ou objetos profundos – quando o fotógrafo coloca seu equipamento para registrar estrelas, cometas, galáxias, e não a paisagem com o céu noturno – certamente já ouviu falar nos “sky trackers”, também conhecidos como mount equatorial.

Estes aparelhos funcionam como uma cabeça de tripé, onde você vai encaixar a câmera, com a diferença que eles são elétricos/ eletrônicos, e movimentam a câmera na mesma velocidade da rotação da Terra (é isso mesmo!).

Dessa forma, é possível fazer longas exposições de uma determinada parte do céu, sem se preocupar com o fatídico efeito de borrar as estrelas (star trails) quando não se respeita a Regra dos 500.

O mount equatorial já é usado a décadas por astrônomos para manter o telescópio em uma posição fixa, como uma determinada estrela ou planeta por exemplo.

Qual é a vantagem disso? Fotos mais limpas, com ISO mais baixo (menos ruído), que podem ser empilhadas posteriormente para obter uma imagem final super nítida daquela galáxia ou constelação.

A desvantagem é que esses mounts equatoriais são grandes e pesados, alguns deles tem um contrapeso para segurar a câmera sem cair, quando eles começam a “entortar” e sair do centro de gravidade do tripé. Isso torna eles pouco atraentes para serem levados de um lado para o outro. No mundo da astronomia, tudo é grande, pesado, complicado, então essa desvantagem já é bem aceita, mas no mundo da fotografia, sempre migrando para a miniaturização, eles já não parecem tão interessantes, mesmo assim vem sendo usados nos últimos anos pelos fotógrafos.

Veja abaixo algumas fotos dos sky trackers mais conhecidos do mercado:

Que fique claro que eu não estou criticando esses mounts equatoriais! Eles são uma ferramenta excelente, funcionam bem, mas a questão da falta de praticidade é real. Inclusive eu sempre quis ter um desses, namorei um modelo bem compacto da iOptron por um tempo, mas nunca tomei a iniciativa de comprar.

Até que, em 2021, essa história começou a mudar.

A Benro, conhecida marca chinesa de tripés e acessórios em geral para fotografia, abriu uma página no Kickstarter.

O Kickstarter é uma plataforma de financiamento coletivo (crowdfunding) para qualquer coisa: livros, filmes, novos produtos, etc. Funciona como o site Catarse e tantos outros aqui no Brasil: A empresa/empreendedor anuncia a sua ideia, quanto custa, e o que o financiador vai receber se comprar. Os financiadores (pessoas físicas) pagam na plataforma o valor anunciado, antes de ele ser produzido, apostando que vai dar certo. Se o empreendedor conseguir o valor total para produção, todos ganham: o produto é feito, e as pessoas recebem em casa. Se não conseguir o valor total em um prazo específico, a plataforma devolve o dinheiro para os financiadores. Ou seja, teoricamente, uma aposta segura, sem perdedores.

A ideia da Benro então foi lançada no Kickstarter: Um mount equatorial moderno, enxuto, pequeno, prático e fácil de usar, a prova de idiotas, todo controlado por app no celular , com várias funções pré-programadas, que vão além da astrofotografia e entram na seara dos timelapses em movimento – algo que também me atraía por algum tempo. O produto se chamava Polaris (o nome é em alusão a estrela do norte – Northstar ou Polaris – usada para fixar o eixo de rotação da Terra no hemisfério norte) e tinha algumas versões, que iam dos 500 aos 1.000 dólares.

Resolvi entrar nessa, e comprei uma versão intermediária (Astro Edition), que vinha com um kit justamente para astrofotografia – uma peça extra que permitia a câmera ficar bem apontada para o céu e paguei por volta de 690 dólares na época – caro, mas o produto prometia muito!

Quando eu soube dessa iniciativa e entrei no financiamento, já no final do prazo, (eles abriram para financiadores ou backers de fevereiro a março de 2021) o valor estipulado já tinha sido muito ultrapassado, atingindo no final mais de 2 milhões de dólares, através de 3.600 financiadores. Eu fui o financiador 3.120, portanto já entrei sabendo que o produto seria produzido. Eles diziam no site que em julho/2021 já estariam enviando para os endereços dos financiadores. O que eu não imaginava é que esse prazo seria esticado em 1 ano.

Pela página do Kickstarter da Benro era possível acompanhar atualizações de fabricação do produto. Foram muitos problemas que apareceram durante o processo, e eles foram reportando isso aos backers pelo site e também por email. Quando estávamos com uns 6 meses de atraso, a galera começou a reclamar muito na área de comentários do site, criticando a demora, mas finalmente em meados de abril / 2022 eu recebi, em casa, no Brasil, o meu Benro Polaris. Não sei se outros brasileiros participaram deste processo, pelo menos o meu video no Youtube foi o 1º do Brasil, por isso acredito que tenha sido um dos poucos a receber o Polaris em 2022 por aqui.

Só fui testá-lo pela primeira vez em junho, pois estava muito atarefado com outros projetos rodando, e obtive resultados iniciais muito interessantes. Neste primeiro teste, ainda sem ser com céu noturno, fiz um timelapse em movimento, definindo o ponto de partida, o ponto de chegada e a quantidade de fotos que eu queria dentro daquele movimento. Automaticamente ele calculou o tempo necessário para fazer todo o trajeto e o intervalo entre as fotos. Incrível! Veja no video neste post o resultado deste primeiro teste com o Benro Polaris, video este que veio a ser o meu 100º do canal.

SOBRE O AUTOR

Marcello Cavalcanti

Fotógrafo outdoor com 20 anos de experiência. Youtuber com o canal Por Trás da Foto, professor de fotografia presencial e online, idealizador dos Cursos Online Fotografia de Paisagem., Filter Masters by K&F Concept, A Caixa Preta do Fineart, e vencedor de prêmios relevantes no cenário da fotografia de paisagem e natureza. Cadastre-se na minha newsletter para ficar sabendo dos novos lançamentos, promoções e dicas de fotografia!