Esse cometa tá dando o que falar!

Desde que foi descoberto, em janeiro de 2023 pelo Observatório Chinês de Tsuchinshan e confirmado pelo ATLAS (Sistema de Alerta de Impacto de Asteroides), da NASA, o cometa C/2023 A3 (Tsuchinshan-ATLAS) vem chamando atenção e foi apelidado de “cometa do século”, isso por causa do seu brilho incrível, sendo possível vê-lo a olho nu em lugares com pouca poluição luminosa, como cidades de interior, zonas rurais e alto de montanhas.

Na semana que atingiu seu periélio (maior proximidade com o Sol) eu estava isolado na região do Porto Jofre, Pantanal Norte, ministrando um workshop de fotografia de vida selvagem, e tinha a certeza de que poderia vê-lo dando um verdadeiro espetáculo no céu.

Mas.. como nem tudo são flores, a região sofria com fortes queimadas por causa da seca extrema que vem assolando o Brasil no inverno, e em 8 dias por lá, mal pude ver uma estrela no céu a noite. Era sempre cinza escuro, tomado pela fumaça, e sem possibilidade de tentar o cometa. O próprio Sol, com toda sua força, aparecia fraquinho no céu, como você pode ver nessa imagem abaixo:

“Perdi essa chance” pensei.

Cometas ainda são um certo mistério para a astronomia, geralmente são descobertos bem próximos à aproximação com a Terra, podem se desintegrar ou se dividir a qualquer momento, mudam de brilho com constância, então tudo pode mudar.

O auge do brilho do C/2023 a3 (Tsuchinshan-ATLAS) – nome oficial do cometinha – estava previsto para o dia 27/09/2024, porém nessa data a maioria dos estados brasileiros também sofria com fumaça no céu – eu não estava sozinho nessa agonia. Porém, após esse dia, choveu no Rio e o céu deu uma boa limpada. Eu cheguei de viagem no dia 30, e percebi que o céu estava cintilante – e sem lua, estávamos no período de lua nova – por isso tinha uma chance de tentar o cometa aqui na cidade.

Usando o app Stellarium vi a posição exata dele ao nascer – por volta do azimute 95º, e, trazendo essa informação para o app PhotoPills… BINGO! A partir do Mirante Dona Marta, no Rio, eu poderia tentar fotografá-lo bem próximo ao Pão de Açúcar.

O “nascer” do cometa ( a hora que ele apareceria no horizonte) estava marcando por volta das 4:11 da manhã, por isso cheguei ao Mirante as 4h em ponto, para dar tempo com calma de organizar o tripé, o equipamento, fazer alguns tiros de teste, e finalmente pegá-lo o mais baixo possível no horizonte, bem próximo ao icônico cartão postal do Rio. Absolutamente ninguém lá essa hora, aquele silêncio, aquela paz.

Quando cheguei lá, imaginei que não seria possível fazer a foto, pois a forte luz emitida pela iluminação pública (que foi trocada para LED há alguns anos, ficando ainda mais forte e branca) criava uma “névoa branca” em cima da cidade.

Exatamente as 4:15 eu comecei a fotografar a paisagem para tentar achar o cometa, e já no primeiro clique, ele apareceu de forma muito brilhante, próximo ao Pão-de-Açúcar, confirmando o planejamento perfeito mas me deixando muito surpreso com a sua luminosidade!

Eu já tinha fotografado cometas antes, inclusive registrei em video no Youtube; O cometa Neowise, na Região dos Lagos (RJ) e o cometa Leonard, que eu fotografei passando pelo braço do Cristo Redentor, e alguns dias depois, passando pelo Dedo de Deus. Ambos cometas não tinham tanto brilho assim quando passaram próximos à Terra, por isso foram muito mais difíceis de encontrar no céu , como você pode ver nos videos citados. Mas esse cometa Tsuchinshan-ATLAS apareceu na primeira foto, com uma longa cauda! Certamente teria dado para vê-lo a olho nu, caso eu estivesse na região serrana do Rio por exemplo. Aqui na cidade, eu não conseguia vê-lo, mas a foto captou com tranquilidade.

Nesse primeiro disparo eu fiz a foto com 13″de exposição, o que se mostrou muito tempo, desnecessário até, para captar a luz do cometa, e deixou a ponta dele mais parecida com um “risco” do que aquela clássica “bolinha” justamente por causa do tempo de exposição elevado. Eu estava fotografando em 70mm de distância focal e, seguindo a regra dos 500, não poderia passar de 7 segundos.

Continuei em 13 segundos, mas abri a distância focal para 24mm para pegar a cena toda. Mesmo com toda luz da cidade para atrapalhar, o cometa ainda saiu bem visível na foto.

Continuei clicando aquela cena incrível, variando a distância focal e tempo de exposição, mas o melhor ainda estava por vir.

Quando o céu começou enfim a entrar na blue hour, trazendo tonalidades de rosa e roxo para a cena, o cometinha foi ficando ainda mais brilhante e visível nas fotos, dando um verdadeiro show, com a foto ganhando cores e ares de amanhecer!

Ao contrário do que muita gente pensa, o cometa não passa rápido pelo céu, como um meteoro. Ele fica “parado”, como uma estrela, se movimentando lentamente, de acordo com a direção da rotação da Terra. Apesar da cauda dele estar apontando para cima, como se ele estivesse “caindo” no horizonte, ele estava se movendo de baixo para cima, junto com todas as outras estrelas.

Por isso, existia aí o desafio de encontrar o melhor brilho dele possível, com a melhor cena possível, pois quanto mais amanhecia, mais longe ele ficava do Pão de Açúcar, sempre subindo no horizonte. E quanto mais amanhecia, menos visível ele ficava, assim como as outras estrelas.

No meu entendimento, essa situação “perfeita”aconteceu por volta das 4:42 da manhã, quando cliquei essa foto acima. Luz incrível e cometa ainda com excelente visibilidade!

Após esse momento, ele foi perdendo força, até desaparecer no céu, próximo ao nascer do Sol.

As fotos bombaram tanto nas redes que sairam até no Globo.com / G1 Rio de Janeiro.
Leia a matéria completa aqui: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2024/10/01/cometa-do-seculo-e-o-pao-de-acucar-fotografo-registra-o-fenomeno-rumo-ao-cartao-postal.ghtml

Estes foram os últimos dias de visualização do cometa C/2023 A3 (Tsuchinshan-ATLAS) durante o nascer do Sol.

A partir do dia 11 de outubro, ele passa a ser visível por alguns dias no pôr do Sol aqui no Brasil, sempre direção Oeste, portanto se você ainda não tentou fotografar esse cometa, vale a pena tentar, ele está absolutamente incrível e merecedor do título de “cometa do século“!

É isso! Ficou alguma dúvida sobre o artigo ou sobre como fotografar cometas? Fala comigo lá no direct do meu Instagram, é a forma mais fácil de me encontrar!

Abraços,

Marcello

SOBRE O AUTOR

Marcello Cavalcanti

Fotógrafo outdoor com 20 anos de experiência. Youtuber com o canal Por Trás da Foto, professor de fotografia presencial e online, idealizador dos Cursos Online Fotografia de Paisagem., Filter Masters by K&F Concept, A Caixa Preta do Fineart, Lightroom Classic Completo, e vencedor de prêmios relevantes no cenário da fotografia de paisagem e natureza. Cadastre-se na minha newsletter para ficar sabendo dos novos lançamentos, promoções e dicas de fotografia!